20/05/15

Prometo falhar...




Passaram três anos e estou farta de ti, 
da maneira como abdicas de ser romântico, da forma como desistes de um amo-te quando te deitas, até do conteúdo vazio das nossas conversas quando nos sentamos à mesa e partilhamos o silêncio, 
o amor quando nasce é para todos e é bom que saibas disso.

Passaram três anos e estou farta de mim, 
de não conseguir fazer o que quero sem que tu estejas, de não ser capaz de dizer que não quando me pedes perdão, de ainda acreditar que um dia vais voltar a ser o homem que me conquistou um dia, de ainda esperar que numa manhã destas me acordes com um beijo e um abraço e me digas que a vida existe porque eu existo, 
o amor quando nasce é para todos e é bom que saibas disso.

Passaram três anos e estou farta de tentar, de trabalhar como uma louca, de chegar a casa e ter de cozinhar, de tratar dos miúdos, lavar a roupa, a louça, e deitar-me sem que tu estejas, a tua cabeça noutro lado qualquer,
onde foi que ficámos?, onde foi que nos deixámos ficar?, 
não me serve este mais ou menos que nunca me serviu, ouviste bem?, não me serve este mais ou menos que nunca me serviu, 
o amor quando nasce é para todos e é bom que saibas disso.

Passaram três anos e estou farta de fugir, 
é tempo de fazer, de actuar, por isso saí mais cedo, peguei nos miúdos e aqui estou, a minha mãe percebe-me e recebe-me em paz, o meu pai percebe-me e recebe-me em paz, há um amor sem condições entre nós, aqui vamos ser felizes, os miúdos vão ter saudades tuas mas sempre existem os fins de semana, sei que és um bom pai, sei que vais perceber, vais chorar mas não tanto como eu, mas vais perceber que tinha de ser, há momentos em que tem de ser, 
o amor quando nasce é para todos e é bom que saibas disso.

Passaram três anos e estou farta de não te querer, 
que dias são estes quando tu não estás?, que coisa é esta que tenho no centro do peito quando percebo a absoluta inutilidade dos meus braços se não podem abraçar-te?, 
tento outras pessoas, juro que tento, invento que aguentarei, que tudo não passa de uma dependência absurda que vai passar, entretenho-me a disfarçar as lágrimas quando saio à noite, 
para que serve a música se não for para te definir?, 
imagino onde estás e com quem estás, ontem ligaste-me por causa dos miúdos e as lágrimas caíram, não sei se notaste e estou-me bem borrifando se percebeste ou não, só espero que os venhas buscar cedo e que peças perdão mais uma vez, desta vez vou perdoar-te e dizer-te que sim, vamos tentar outra vez, vamos tentar todas as vezes, 
para que raios serve o orgulho se não te puder apertar?, 
sou uma mulher nova e tenho saudades da nossa rotina, dos nossos espaços vazios e dos nossos silêncios, 
o amor quando nasce é para todos e é bom que saibas disso.

Pedro Chagas Freitas
in Prometo falhar

- Esse é um excerto do livro Prometo Falhar de Pedro Chagas Freitas (fonte)


Sem comentários:

Enviar um comentário