Passaram três anos e estou farta de ti,
da maneira como abdicas de ser romântico, da forma
como desistes de um amo-te quando te deitas, até do conteúdo vazio das nossas
conversas quando nos sentamos à mesa e partilhamos o silêncio,
o amor quando nasce é para todos e é bom que saibas
disso.
Passaram três anos e estou farta de
mim,
de não conseguir fazer o que quero sem
que tu estejas, de não ser capaz de dizer que não quando me pedes perdão, de
ainda acreditar que um dia vais voltar a ser o homem que me conquistou um dia,
de ainda esperar que numa manhã destas me acordes com um beijo e um abraço e me
digas que a vida existe porque eu existo,
o amor quando nasce é para todos e é bom
que saibas disso.
Passaram três anos e estou farta de
tentar, de trabalhar como uma louca, de chegar a casa e ter de cozinhar, de
tratar dos miúdos, lavar a roupa, a louça, e deitar-me sem que tu estejas, a
tua cabeça noutro lado qualquer,
onde foi que ficámos?, onde foi que nos
deixámos ficar?,
não me serve este mais ou menos que
nunca me serviu, ouviste bem?, não me serve este mais ou menos que nunca me
serviu,
o amor quando nasce é para todos e é bom
que saibas disso.
Passaram três anos e estou farta de
fugir,
é tempo de fazer, de actuar, por isso
saí mais cedo, peguei nos miúdos e aqui estou, a minha mãe percebe-me e
recebe-me em paz, o meu pai percebe-me e recebe-me em paz, há um amor sem
condições entre nós, aqui vamos ser felizes, os miúdos vão ter saudades tuas
mas sempre existem os fins de semana, sei que és um bom pai, sei que vais
perceber, vais chorar mas não tanto como eu, mas vais perceber que tinha de
ser, há momentos em que tem de ser,
o amor quando nasce é para todos e é bom
que saibas disso.
Passaram três anos e estou farta de não
te querer,
que dias são estes quando tu não estás?,
que coisa é esta que tenho no centro do peito quando percebo a absoluta
inutilidade dos meus braços se não podem abraçar-te?,
tento outras pessoas, juro que tento,
invento que aguentarei, que tudo não passa de uma dependência absurda que vai
passar, entretenho-me a disfarçar as lágrimas quando saio à noite,
para que serve a música se não for para
te definir?,
imagino onde estás e com quem estás,
ontem ligaste-me por causa dos miúdos e as lágrimas caíram, não sei se notaste
e estou-me bem borrifando se percebeste ou não, só espero que os venhas buscar
cedo e que peças perdão mais uma vez, desta vez vou perdoar-te e dizer-te que
sim, vamos tentar outra vez, vamos tentar todas as vezes,
para que raios serve o orgulho se não te
puder apertar?,
sou uma mulher nova e tenho saudades da
nossa rotina, dos nossos espaços vazios e dos nossos silêncios,
o amor quando nasce é para todos e é bom
que saibas disso.
Pedro
Chagas Freitas
in
Prometo falhar
- Esse é um excerto do livro Prometo Falhar de Pedro Chagas Freitas (fonte)
Sem comentários:
Enviar um comentário